A guerra e os bebês - Leo Buso

A guerra e os bebês

Os efeitos de uma guerra são devastadores, vidas são perdidas cruelmente, dizimando combatentes, civis e, assim, desestruturando famílias, povos, países. Infelizmente, depois de tantos registros comoventes e inacreditáveis de guerras anteriores, estamos vivendo mais um exemplo de desumanização, em pleno século 21, com a guerra na Ucrânia.

Além das tristes perdas humanas, os prejuízos com a destruição alavancam o abalo econômico, altamente já impacto pelos danos de um mercado rompido em seu fluxo corrente.

Nada disso passará sem agravos econômicos, materiais e psicológicos, que perdurarão ao longo do tempo afetando pessoas e sociedade, na tentativa de recuperação e equilíbrio.

Mas vamos pensar, além de todos esses danos, naqueles seres que são absolutamente dependentes e que necessitam de um contexto adequado para a continuidade de ser. Sim, estamos falando dos bebês e crianças que estão iniciando o desenvolvimento emocional, cujo impacto dos cuidados ambientais são fundamentais para a amadurecimento saudável.

Nos estágios mais iniciais, a dependência é absoluta e o ambiente, representando pela mãe ou substituta, será o grande provedor de toda a atenção e dos cuidados. Costumeiramente a mãe sabe fazer isso e se identifica com seu bebê suprindo as necessidades à medida das possibilidades deste. Portanto, a mãe que está inserida num contexto comum, na maioria das vezes, consegue fazer um bom trabalho e devota-se ao seu bebê com uma adaptação quase que perfeita, suficientemente boa, para ajudar-lhe na apresentação do mundo objetivo, a partir de tarefas iniciais, que serão integradas pelo bebê, num ambiente favorável.

Mas tais tarefas não estão garantidas e, tampouco, são dadas ao bebê logo de saída. Precisará um tanto de disponibilidade e cuidados vindo desta mãe, para além das necessidades de alimentação, manipulação e higiene, dentro de um ambiente previsível e monótono, por uma identificação materna primária, representada pela vinculação afetiva, onde a mãe passará a sentir o que seu bebê sente e precisa.  

Intrusões constantes, farão com que esse bebê tenha que se adaptar reagindo àquilo que não estava previsto e, com certeza, estava também para além de sua capacidade de entender e suportar. Se tornam agonias impensáveis, que somente a mãe-ambiente poderia poupar-lhe de tal sofrimento. Mas como está esta mãe dentro de um ambiente tão hostil quanto a guerra? Por maior que seja sua intenção no cuidar, sua condição psíquica não está capaz de prover o ambiente necessário para seu bebê, que seria aquele suficientemente bom, onde a apresentação do mundo pudesse acontecer em doses pequenas de acordo com as possibilidades e necessidades do bebê, permitindo que ele usufruísse de sua ilusão de onipotência, isto é, de estar criando as coisas que precisa. Tudo isso, reitero, somente pode se realizar num ambiente monótono e previsível.

A mãe para realizar a suas tarefas com devotamento amoroso precisa de estabilidade e de condições externas favoráveis, muitas vezes, proteção proporcionada e garantida pelo pai e familiares. Numa situação de guerra, a imprevisibilidade e o medo, geram temor e ansiedades em todos aqueles que teriam que proteger esses bebês, não permitindo a realização dos cuidados necessários e, isso, inevitavelmente, acarretará angústias aos bebês, devido as intrusões ou negligencias que podem vir deste ambiente e que ainda não podem ser conhecidas pela imaturidade neste estágio de vida. 

É uma vivência num ambiente totalmente desfavorável e não adaptado para proporcionar a tranquilidade que as mães necessitam para cuidarem de seus bebês e está também para além da capacidade de proteção da família, que se torna nesta situação, derrogada.

Infelizmente, a guerra além de todos os danos conhecidos, impactará no desenvolvimento emocional destes pequeninos, podendo acarretar sofrimentos futuros com distúrbios de personalidade, e que, se não fosse pela extensão das guerras, estes bebês teriam condições de um amadurecimento saudável, na maioria das vezes, com as suas próprias mães, que naturalmente, sem intervenções externas, teriam maiores possibilidade de prover o ambiente cuidador suficientemente bom.

Palestrante e Trainer em Desenvolvimento Humano, Psicoterapeuta, CEO da Spaço Quality (Gestão da Qualidade de Vida do Trabalhador e EKZISTI (Desenvolvimento Humano).

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