O conceito de psique na psicologia analítica abrange todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos, tanto conscientes como inconscientes. É a personalidade do sujeito que se apresenta através de sua psique.
O psiquismo é composto de níveis inter-relacionados e se expressa de várias maneiras, podendo ser de forma literal e pragmática pelo consciente, assim como de modo imagético e criativo no inconsciente. Podemos considerar que esta ordem prática da consciência se relaciona diretamente com conteúdo psíquico conhecido e, aqueles desconhecidos ou esquecidos, somente chegarão à consciência por um dinamismo engenhosamente livre e imagético, onde o próprio consciente atuará para uma elaboração simbólica.
Vamos iniciar, explanando este modo racional e causal, onde a consciência avalia, interpreta e julga, organizando pensamentos e sentimentos, com seus recursos limitados e disponíveis, na esfera da vontade, orientação e razão.
O centro deste campo consciente é o ego, nos dando o sentido de identidade e existência. Mas como parte apenas da consciência, o ego não contempla todos os conteúdos psíquicos, especialmente àqueles do inconsciente, produzindo, por si só, sempre uma visão circunscrita, literal e objetiva.
Sendo o ego esta pequena parte da psique, que postula um determinismo no sentido do senso comum e tradicional no campo da lógica analítica e linear, pode-se incorrer que sua unilateralidade se fixa numa compreensão reduzida e excludente, promovendo uma consciência limitada e direcionada exclusivamente para o ambiente externo e, portanto, dissociativa da totalidade do indivíduo.
O ego na psicologia profunda tem um papel fundamental na vida do sujeito. Erroneamente tem se colocado o ego como fator limitante para a evolução individual e coletiva. Por ele consolidar a individualidade na consciência humana, leva-se distorcidamente, a ser subjugado como fator responsável somente pelas condutas individualistas e ambiciosas. Mas a individualização protagonizada pelo ego é o processo que diferencia o próprio sujeito das outras espécies, dos outros homens, organizando as suas próprias prioridades, tomadas de decisões e ações, dentro da consciência.
Isto quer dizer que, o ego não pode sofrer uma qualificação dos valores morais, pois ele tanto pode manipular e direcionar atividades interesseiras e exclusivistas, como também altruístas e coletivas. O ego toma uma decisão e mobiliza a energia suficiente na intenção de cumprir a tarefa, independentemente se ela é boa ou não para o indivíduo, ou para o coletivo.
O problema da primazia do ego é tentar operar pelas certezas confiáveis e consentidas, configurando uma personalidade bastante unilateral, das quais estão somente aceitos os princípios, ideais e valores que estejam em consonância com os padrões concebidos socialmente. Excluindo, portanto, quaisquer possibilidades que não atendam os moldes sociais aceitáveis pelo ego.
Esta situação mobiliza bastante energia psíquica para combater os antagonismos naturais, humanos e universais, na tentativa de adaptar este ego ao desempenho das funções sociais e culturais de uma determinada sociedade.
É neste anseio, que o ego adota uma personalidade mais adaptativa às regras sociais e aos conceitos morais de uma sociedade, imprimindo uma roupagem mais favorável, designada por Jung como Persona, com o intuito de ser aceito e acolhido. A persona é a “máscara” que o indivíduo constitui com elementos que atendem às expectativas e determinações coletivas.
O problema desta cisão entre consciência individual e a sociedade não está somente na criação da máscara social, pois ela é importante para a sobrevivência humana, principalmente em seu desenvolvimento inicial. O óbice reside na quantidade de energia psíquica desperdiçada, sem qualquer possibilidade de êxito real, para romper a tensão dos opostos.
Tal inteireza é da natureza humana e. o empreendimento na unilateralidade, nos aprisiona em conceitos, percepções, ideias, crenças restritivas sobre nós mesmos e sobre o mundo, impossibilitando a ampliação de nossa consciência para nos tornarmos quem realmente somos, onde as polaridades são consideradas.
Uma importante reflexão até agora, para a nossa vida, é que podemos estar vivendo alguns padrões disfuncionais que nos mantém numa vida literal, unilateral e, portanto, ao pé da letra e excludente, não permitindo o encontro com a nossa totalidade. É como se estivéssemos tentando ver apenas uma parte de nós mesmos, preferencialmente aquela mais aceitável, negando ou tentando negar o que acreditamos estar fora de nosso ideal de ego.
É neste sentido que chamamos a atenção do leitor para pensar como está conduzindo sua própria vida. Se está identificado com um modelo ou algum padrão de personalidade, acreditando ser somente aquilo que está sendo visto, sem se aperceber de polaridades que contrapõem o nosso funcionamento psíquico, que opera no equilíbrio entre forças opostas.
Permanecer sobre apenas uma perspectiva de nós mesmos é um reducionismo que nos impede de um autoconhecimento mais profundo e a vivência de nossa totalidade. Caso nos mantenhamos unilateralmente fixados em um padrão de personalidade, estaremos demarcados por uma consciência inflexível e encolhida, sendo apenas parte de nós mesmos. E, o problema de não nos vermos como um todo, pode incorrer na busca de nossa completude em outros objetos e pessoas.
Entendemos que colocar um holofote em campo desconhecido, no inconsciente, pode ser desconfortável e, enxergar aspectos por nós mesmos negados não é tarefa simples ou fácil, mas esta é a jornada rumo ao encontro de nossa verdade.
O conceito de expansão da consciência está diretamente relacionado à percepção de nossa totalidade, no processo de inter-relação consciente-inconsciente. Possibilitando assim, um alargamento das fronteiras da consciência, para se utilizar eficazmente dos conteúdos inconscientes e permitir a integração dos opostos, por meio da dialética simbólica. Com isso, tornar o indivíduo consciente de si próprio, não apenas na conjuntura individual e social, mas incluindo também, esta consciência, no contexto coletivo e no sentido universal.
Os símbolos são, frequentemente, tentativas de unir imagens do inconsciente com a consciência para atingir um equilíbrio entre estas duas instâncias psíquicas. O dinamismo dos símbolos é transformar os significados individuais ou específicos para adquirirem conotações mais amplas, relacionando o indivíduo com sua totalidade, agregando e harmonizando forças antagônicas.
Quando um símbolo traz à consciência conteúdos inconscientes, pode gerar profundas transformações na psique do indivíduo, proporcionando-lhe um mergulho interno rumo à sua totalidade. Tais significados se revelam vindo da profundidade do arquétipo central – o self, que carrega o senso original desta totalidade.
A elaboração simbólica, por meio de uma comunicação mútua do eixo ego-self, possibilita a mediação entre o oculto e o revelado, entre a incompatibilidade da consciência e do inconsciente criada pela separação de elementos na experiência do indivíduo, unificando e condensando em novas imagens dotadas de mais sentido e significado da totalidade
Nesta atuação, o símbolo por meio de imagens, cumpre sua função como importante meio de relacionar conteúdos internos do inconsciente, com as percepções da consciência no mundo exterior, onde estes se combinam, refletem um ao outro, gerando uma ressonância entre si. Possibilitando desta forma o aprofundamento do indivíduo na experiência pessoal e na vivência de sua totalidade, portanto, na expansão da sua consciência.
Símbolo é um conceito central na Psicologia Analítica e é mais fácil reconhecê-lo do que o definir ou aplica-lo. O símbolo é vivo, autônomo e espontâneo. É uma atividade psíquica apriorística, natural e não carece de interpretações literais ou explicação. É um mistério que nos desperta, mas não é compreendido na sua totalidade e, nem o deve ser.
Viver uma vida simbólica é se manter aberto para livremente experienciar a linguagem da alma. É sentir e deixar-se penetrar pelas expressões imagéticas dos mitos, da literatura, das metáforas, das artes, sem decodificação da consciência.
Um fenômeno natural que busca a auto regulação psíquica, na tentativa de integração dos opostos, é o sonho, pois compensa as atitudes unilaterais mantidas conscientemente, para dar voz aos aspectos inconscientes e a totalidade.
A psicoterapia, as expressões plásticas, escritas ou dramatizadas são também atividades que estabelecem a relação do indivíduo com a sua interioridade por meio de uma comunicação simbólica, possibilitando a leitura e a integração de particularidades psíquicas, sempre mediante a disposição da consciência para o contato com elementos que emergem do inconsciente.
E neste sentido, ampliar nossa consciência e o ressurgimento de nossa personalidade total, onde os opostos são considerados.