Todo indivíduo carrega um arsenal de vivências e experiências desde a sua concepção, um histórico de vida com memórias conscientes e conteúdos inconscientes de onde derivam os comportamentos, capacidades, crenças e até mesmo a própria identidade, isto é, quem é. Tudo aquilo que não está na consciência é abrigado pelo inconsciente, especialmente conteúdos que foram reprimidos ou recalcados por algum julgamento de não estarem compatíveis aos padrões aceitáveis pelo indivíduo e, que mesmo apartados da consciência, muitas vezes, produzem comportamentos indesejados, dos quais criam sentimentos e resultados negativos tanto para o sujeito, como em seu ambiente. Isto quer dizer que conteúdos adormecidos no inconsciente, “acordam” com experiências, memórias e gatilhos, produzindo manifestações e reações, às vezes, desastrosas e desagradáveis. Quem já não passou por isso? Que se envergonhou por algo realizado e até mesmo se surpreendeu pela capacidade de fazer algo tão inesperado e inconveniente. Mas o que fazer?
Somente um processo verdadeiro de autoconhecimento é capaz de trazer luz para esses aspectos inconscientes. O primeiro grande passo para uma jornada sustentável ao autoconhecimento é a real auto aceitação de como exatamente somos hoje, sem julgamento do que é certo e errado. Olhar como observadores de nós mesmos pode nos ajudar a contatar outras partes que carregamos dentro de nós, que ainda não foram acessadas conscientemente. Essas partes migram para um espaço (não físico), o inconsciente, quando não podemos ou não queremos olhar, por medo, raiva, dor, culpa, etc.
Mas você deve estar se perguntando o porquê deste processo, por que temos um mecanismo como este? Embora seja complexo, o intuito deste mecanismo é “arquivar” conteúdos que ainda não conseguimos dar conta. Como não temos ainda condição de lidar com algum aspecto que julgamos negativamente, esse mecanismo se encarrega de “guardá-lo” provisoriamente, para que num outro momento, possamos, com outras condições, acessá-lo. Mas o viés desta história é que o deixamos arquivado mais tempo do que precisávamos, não somente por ainda não termos condição, mas simplesmente por que estamos vivendo uma vida automática, onde o mundo externo tem maior importância do que o mundo interno. E como resistimos a este contato, eles surgem de maneiras mais variadas, afetando negativamente a nós mesmos e aos outros. Geralmente é aquele comportamento que fazemos sem querer fazer ou aqueles outros que nos assustam quando os fazemos.
Por isso, olhar nossa verdade é reconhecer a nossa real dimensão, tamanho, luz e sombras. É não nos colocarmos num pedestal, quando queremos esconder nossas inseguranças e medos, ou nos inferiorizarmos por não reconhecermos as nossas qualidades por uma autoestima comprometida. É olhar como observadores para todas as partes que existem em nós, sem negar, vitimizar ou fugir do que somos ou do mundo.
Por isso, para se falar de autoconhecimento, o primeiro passo é olhar para dentro (nosso interior), para baixo (com profundidade) e para trás (pesquisar os padrões adquiridos em nosso histórico de vida). Assim poderemos ter maior clareza de quem verdadeiramente somos e dos nossos conteúdos, sabendo, inclusive, melhor discernir o que é realmente nosso e o que é do outro, sem projeção, sem medo e principalmente, com generosidade e auto aceitação.