Tanto o dinamismo matriarcal quanto o patriarcal são estruturantes para o desenvolvimento psíquico, portanto, um não é superior ao outro. A transição entre eles pode acontecer ao longo da vida de um indivíduo, ou até mesmo, de uma sociedade, não concebendo esta alternância, como regressão ou elevação de consciência.
São situações consteladas pelos arquétipos, que estão presentes no inconsciente de um ser e de um povo, numa determinada época. E esta atuação arquetípica, pode ser multipolar transitando entre luz e sombra, em cada consciência.
A consciência patriarcal viabiliza a vivência em sociedade, com a introdução de normas e regras orientadas para estabelecer ou restabelecer condutas coletivas e individuais, com base no princípio de realidade da consciência, em determinado momento.
A necessidade arquetípica do pai é fundamental para a espécie humana, pois diz respeito ao dever, honra e justiça, critérios estruturantes para a vida em sociedade. Num indivíduo, a consciência patriarcal se estrutura com as imagens paternas do inconsciente coletivo, contagiadas pela experiência pessoal deste indivíduo com seu pai ou seus substitutos.
A consciência matriarcal está atrelada aos processos mais inconscientes, instintivos, na dissociação mente-corpo, mente-natureza, portanto, nos aspectos indiferenciados, coordenados pelo princípio de prazer, do desejo, da fertilidade, proteção, acolhimento, afetividade, nutrição e outros. Tais símbolos da consciência matriarcal são regidos pelo arquétipo materno do inconsciente coletivo, e serão modeladas, no indivíduo, na vivência deste com a sua mãe e substitutas.
Porém estas duas consciências, além de suas funcionalidades estruturantes, carregam também obscuridades em contraposição aos seus aspectos organizadores.
Por exemplo, o arquétipo materno, que é aquele que cuida, sustenta e alimenta, pode transitar entre os aspectos sedutores de afetividade: proteção, acolhimento e matizes desta simbiose indiferenciada, com particularidades opostas, como: frieza, negligência e abandono. Tal atuação é constelada pela mãe terrível e pode se tornar uma ordem quase visceral, gerando impulsividade e permissividade, critérios bastante venosos para um movimento desenfreado.
Por outro lado, um patriarcal exageradamente dominante, com alto teor de racionalidade e inflexibilidade, pode atuar com manobras suficientemente controladoras, para interditar com força e violência àquilo que se contrapõe à ordem preconizada. O pacto com a tradição, normas e padrões opõe-se à aspiração do indivíduo diferenciado da consciência patriarcal e, a individualidade, é rechaçada para diretrizes coletivistas. Tal predominância é constelada pelo arquétipo do pai terrível.
Compreendemos então que cada consciência alimenta polaridades arquetípicas que irão influenciar o indivíduo de formas opostas. É bom ressaltar também que a posição fixada na unilateralidade em uma ou outra consciência, abre um espaço oco no psiquismo do indivíduo, com a falta dos aspectos estruturantes abrigados tanto no dinamismo matriarcal e patriarcal.
Uma consciência que se pauta no princípio de afinamento das relações humanas, onde o outro é respeitado em sua individualidade é a consciência da alteridade. Esta consciência arquetípica articula a interação matriarcal-patriarcal, mas não se identifica nem com o arquétipo matriarcal nem o patriarcal. Ela ressurge pelo arquétipo de alteridade constelado, manifestando valores altruístas de compaixão, empatia e perdão.